Janelas Artísticas Manuelinas

O hábito de ornamentar os edifícios com janelas e portas artísticas vem de longe. Em castros da Idade do Ferro, no noroeste de Portugal, os canteiros daquele período, trabalharam belas portas com decoração geométrica, em que predominam os entrançados. Na Idade Média fizeram-se lindas portadas e janelas românicas e góticas. Nessa altura as obras de arte eram monopólio da Igreja.
A partir do século XVI generalizou-se o hábito de adornar os edifícios profanos, ainda por vezes os mais modestos, com portas e janelas artísticas, o que mostra as novas concepções de vida no sentido de uma arte ao serviço do homem. Muitas vezes, a janela, á semelhança da moldura de alguns retratos é a única expressão estética. No distrito da Guarda e particularmente no concelho de Celorico da Beira, encontram-se artísticas janelas e portais, sendo possível marcar uma evolução do manuelino ao barroco. Em algumas povoações deste distrito, a abundância de janelas quinhentistas é notável. E torna-se tanto mais desconcertante quanto é certo que as paredes são pobres, muitas vezes de cascalho sem as cantarias que dão nobreza aos edifícios. Que razões terão motivado esta profusão de portas e janelas artísticas? Seriam motivos de ordem religiosa? Notemos que estas janelas são mais abundantes ao longo das ruas, onde é costume passarem as procissões. Mas devemos também observar que essas ruas são geralmente as principais, portanto aquelas onde viviam as familias mais abastadas, podendo o factor religioso não ter tido influência mas sim o luxo.
Datas existentes em portas e janelas dão-nos, em alguns casos, indicações preciosas para a sua determinação cronológica.
A data mais remota que se regista numa janela deste distrito é de 1515, repetida duas vezes, em Pousa Foles do Bispo. Em Linhares, uma inscrição em cursivo, tem a data de 1569. As janelas datadas são mais vulgares no período barroco. Em Carnicães (Trancoso) localiza-se uma janela de 1621 com a legenda em espanhol, «Por Febreroo».
Pensa-se que este movimento artístico terá muito que ver com a construção da Sé Catedral da Guarda, que teve o seu período mais intenso na época manuelina. E nas antigas vilas deste distrito, hoje muitas delas simples aldeias, que vamos encontrar essas janelas, principalmente nas povoações que se encontram mais próximas da cidade da Guarda.
O desenvolvimento do comércio nesta região, especialmente o realizado com a Espanha no séc. XVI e XVII teve, certamente, importância, aumentando a riqueza que possibilitou pagar aos canteiros, que haviam trabalhado na Sé da Guarda, concluída em meados do séc. XVI.
Na Guarda, em Celorico da Beira, Linhares, Fornotelheiro, Mesquitela, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Vila do Touro, Pousa Foles do Bispo, Pinhel, Folgosinho, etc., encontramos janelas e portas manuelinas. No concelho de Celorico é na vila e em Linhares onde existem as janelas de maior beleza. Nesta segunda povoação distinguem-se a do Tribunal, outra ornamentada com motivos lobulados e uma manuelina de rara elegância numa casa com passadiço. Em Celorico da Beira, na zona do Castelo encontram-se as melhor decoradas. Algumas sem ramagens, outras lóbulos ou motivações geométricas.

Como se apresentam fotografias destas obras dispensam-se pormenores da sua descrição. Portais em Linhares, Mesquitela e Celorico, enriquecem este património.