Pontes

Há na região celoricense várias pontes de pedra, mas não datam da mesma altura. Em termos gerais podemos considerar no decurso de dois milénios de construção viária, quatro períodos favoráveis á edificação de pontes no distrito da Guarda.
O primeiro período coincide com a abertura das primeiras vias romanas. Mas convém esclarecer que as pontes romanas são extremamente raras. Não se podendoclassificar de romana nenhuma das existentes no concelho de Celorico, não obstante algumas serem de volta inteira e possuírem quebra águas.
Pontes classificadas como romanas são medievais. Foi durante a primeira dinastia, a partir dos reinados de D. Afonso III e D. Dinis que se construíram muitas pontes e poldras. A maior parte dessas pontes eram de madeira e assim se mantiveram através de sucessivas reparações até aos séculos XVI e XVII, em que as substituíram por pontes de pedra. Essas obras de cantaria foram feitas nos reinados de D. João III e nos primeiros anos do domínio filipino.
A quarta fase iniciou-se com a política de transportes, conhecida por fontismo (Fontes Pereira de Melo, primeiro ministro das Obras Públicas), depois de meados do século XIX. E não se construíram só pontes mas também chafarizes, como se verifica pelas datas gravadas nos seus frontões. Alguns destes chafarizes situam-se na estrada da Beira. O mais próximo de Celorico tem a data de 1880.
Duas grandes estradas tinham o seu começo, ou o seu fim, em Celorico da Beira. Eram elas, a estrada real de Coimbra a Celorico e a estrada real da Mealhada a Celorico, ramificando-se para Trancoso, Guarda, Covilhã, Sabugal, etc. Destas grandes vias saiam outras, como a de Seia para o distrito de Viseu, com ligações para Trancoso e para o norte; a da Guarda para Pinhel, etc.
Com base em Gama e Castro, que nos dá estes informes, transcreve-se um inventário respeitante à construção de obras de arte no distrito da Guarda, no século XVII.
ponte do rio Cessodo (actual ribeira da Cessada, em Rio Torto Gouveia) foi arrematada em 1613, pelo mestre Francisco António, canteiro de Coja, por 550 000 cruzados. Também se lançou uma finta. (T. T. Doações, liv. 38, fl. 19).
A ponte da Ribeira d’Alva foi arrematada em 1614, por mestre João Francisco e um seu companheiro, por 1 550 000 reis. Também foi lançada uma finta (T T Priv. L fl. 182).
ponte da Carvalhosa, sobre o Mondego, foi traçada pelo mestre de pontes David Alvares, morador em Trancoso. Foi construtor Manuel Ferreira. Também a este Mestre David Alvares se deve o traço da ponte de Asurara da Beira. Arrematou, em 1624, por 778 000 reis, a ponte dos Jugais sobre o rio Alva, a pedido das Câmaras de S. Romão e Valesim. Em 1625, arrematou a ponte do rio Maçoeime, junto da antiga vila de Moreira, por 4 500 cruzados.
Em 1626 arrematou a ponte de Valbom por 400 000 reis (T T. Fil. III, doação, liv. 24, fl. 194, liv. II, fl. 157 v. e 239 e liv. 26 fl. 287 v.).
Este arquitecto, mestre de pontes, David Alvares de Trancoso, assim como o empreiteiro Manuel Ferreira, parecem, pelos nomes, de ascendência judaica e deveriam estar ligados a antiga comunidade dos marranos daquela vila.
Aponte de pedra e madeira da Lavandeira, sobre o rio Mondego, junto á vila de Celorico da Beira, foi arrematada por 230 000 reis, em 1652, pelo mestre de obras de pedraria, António Domingues, do lugar de Cortiço. Para execução da obra foi ouvido o arquitecto Mateus do Couto (T. T. Chancel. de D. João IV, .iv, 24, fl. 150 v.).
A ponte da Lavandeira recebeu restauro no tempo de D. João V.
A ponte nova, também próxima da vila, sofreu, a volta de 1950, restauro e de um dos pegões foi retirada pelo empreiteiro a inscrição quinhentista que colocou para melhor visibilidade, junto da estrada, sobre uma rocha. Refere a construção da ponte no reinado de D. João III e não no de D. Manuel I.
Ponte da Lavandeira construída em 1652 e a Ponte Nova foram arrasadas pelos franceses na altura das invasões. Repararam-nas em 1818.
Outra importante ponte deste concelho, também em cantaria, é a Ponte do Ladrão, sobre o rio Mondego, cujo estudo de alargamento deu lugar a um excelente trabalho sobre a estabilidade estrutural dos arcos em cantaria, feito pelo Eng. Paulo Ribeirinho Soares. A Ponte do Minhocal e da Jejua são também medievais, assim como a da Ribeira das Olas, onde havia vários oleiros.